domingo, 20 de abril de 2014

Sobre o Esporte e o Luciano

Podes até não gostar de futebol. Podes dizer que é bobagem ver "22 marmanjos correrem atrás de uma bola". Que o esporte virou um grande painel publicitário e que a sua essência se perdeu ao longo dos tempos, algo que inclusive concordo em partes. Mas se tem algo que precisas admitir, é que ainda há a cultura do futebol, uma sociologia futebolística. 

Como "ouso" escrever isso? Me explique então o que é o torcedor do Feyenoord homenageado no estádio do clube em seu leito de morte; como tu explicas o moleque colombiano chorando ao encontrar Falcão Garcia, e mais, dizendo que ora a Deus por sua recuperação; tente discutir com o fato de Nivaldo Prietto estar aos prantos e não conseguir dizer uma palavra sobre a partida que narrará só por ouvir falar do Luciano do Valle. Sim, é uma realidade paralela, mas que para muitos é indissociável da vida. É aquilo que encanta o piá que escreve nas costas um "9" e sai pra jogar bola na rua. O que trás um pouco de afago pra vida sofrida de muito pai de família que briga pra levar o pão e o leite pro filho. Futebol é um ser social. Digno das análises feitas sobre ele, dissertações, teses, livros, teorias. Digno de respeito.

Pra quê todo esse texto? Pra dizer que tem muita gente órfã desde ontem. De um grito único de gol. O gol do Luciano. Quisera eu falar só dos amantes do futebol masculino, com os quais muitos tem uma cisma incrível, mas a fronteira se expande quando  lembramos o que ele fez pelo futebol feminino, pelo automobilismo, pelo vôlei, pelo basquete brasileiro. Pois o narrador é quem leva a emoção, quem complementa as imagens, quem dirige o olhar, alerta pra o que ninguém vê, é quem prevê o gol do Henry na Copa de 2006. O futebol continua, mas perde uma parte singela, porém importante da sua emoção. O Luciano. Luciano do Esporte.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Derivação imprópria

“Seu olhar me fascina”
Daquelas bobas frases de exemplo em apostila
O assunto era formação de palavras:
“Derivação imprópria” lá dizia

“Como imprópria?”
Argumentei com o branco papel
Confundindo morfologia com sentimento
Defendi por minutos meu nobre argumento

“Foca na matéria”
Foi a resposta seguinte da cuca
Mas pra continuar a leitura
Ah, meu amigo; só com muita calma e compostura

Depois que acabei tudo aquilo
Voltei pra definição mais que depressa
Pois chamaram de “imprópria” aquela que sorrisos me tirava
“E não é só o olhar, papel mentiroso”
Era a voz delicada, a risada que ela dava
Que trazia consigo o fim do meu silêncio
Era a melhor companhia no momento de lamento
Era a bugada-esquecidinha com zero de latitude
E mesmo que eu não soubesse atribuir-lhe bons vocativos
A maior vontade era tê-la comigo

Pensei no final: pobre papel, chama de impróprio o que nunca sentiu
Pois como é PRÓPRIO alguém que chega e arrepia até o último fio!