“Seu olhar me fascina”
Daquelas bobas frases de exemplo em apostila
O assunto era formação de palavras:
“Derivação imprópria” lá dizia
“Como imprópria?”
Argumentei com o branco papel
Confundindo morfologia com sentimento
Defendi por minutos meu nobre argumento
“Foca na matéria”
Foi a resposta seguinte da cuca
Mas pra continuar a leitura
Ah, meu amigo; só com muita calma e compostura
Depois que acabei tudo aquilo
Voltei pra definição mais que depressa
Pois chamaram de “imprópria” aquela que sorrisos me tirava
“E não é só o olhar, papel mentiroso”
Era a voz delicada, a risada que ela dava
Que trazia consigo o fim do meu silêncio
Era a melhor companhia no momento de lamento
Era a bugada-esquecidinha com zero de latitude
E mesmo que eu não soubesse atribuir-lhe bons vocativos
A maior vontade era tê-la comigo
Pensei no final: pobre papel, chama de impróprio o que nunca sentiu
Pois como é PRÓPRIO alguém que chega e arrepia até o último fio!